Apresentação – Núcleo Nós e Projeto Atlântica Desaparecida?
O Núcleo Nós, nasceu em 2008, de uma inter-relação artística entre a atriz, diretora e pesquisadora Alexandra Tavares e o performer sonoro Eduardo Joly. O Núcleo procura investigar em seus trabalhos artísticos os sentidos de cocriação e relações com diferentes artistas e linguagens em processos de criação para as artes da cena. Atlântica Desaparecida? é o terceiro projeto do Núcleo, que se propõe a investigar relações com a Mata Atlântica a partir de estudos sobre a memória, experiências sensoriais-motoras e frequências sonoras.
Inspirado pela própria convivência em fragmentos da Mata Atlântica, situados nas cidades de São Paulo e de Juquitiba, os artistas passaram a se perguntar como seria possível uma retomada do espaço pela floresta em um território ocupado por atividades humanas. Em um primeiro momento, a pesquisa procurou as lideranças indígenas femininas guaranis, Jerá Guarani e Jaxuka Clarice – interlocutoras deste projeto – em uma tentativa de nos aproximar de suas perspectivas na relação com a Floresta, através de um processo de escuta. Outros importantes materiais de pesquisa que foram escutados são os trabalhos dos historiadores ambientais Warren Dean e Diogo de Carvalho Cabral.
Segundo o historiador Warren Dean, autor do livro A Ferro e Fogo – A História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira, a coexistência com a floresta tropical sempre foi problemática para o ser humano. De acordo com o autor, o avanço da espécie humana funda-se na destruição de florestas e destas, não se rouba apenas a existência, mas também a alteridade de seu protagonismo. No livro, Dean pergunta se seria possível uma “história” da floresta? Segundo ele, a história tradicionalmente trata de ambições, satisfações e frustrações humanas. No entanto, como poderia haver um relato da história de outras espécies, quando devemos supor que suas ações careciam de qualquer outra intenção além de procriar e sobreviver? Seria mais cômodo afirmar que outras espécies nessa planície sombria não podem desempenhar qualquer papel no teatro da história humana salvo o de cenário, mesmo quando a peça é sobre a eliminação do cenário?
Em contraponto a esta ideia, encontramos em Cabral os conceitos de uma alteridade florestal da Mata Atlântica a partir de uma construção relacional humana e, em sua obra “Na Presença da Floresta” a constatação de que foi a partir, principalmente do ciclo do café, que se deu a sua verdadeira destruição. Somado a essas perspectivas, a triste visão de que a Mata Atlântica hoje não poderia mais ser considerada um bioma mas sim, um antroma, conceito cunhado pelos geógrafos Ellis Erle e Navin Ramankutty para buscar compreender os elementos formadores das paisagens, suas interações e como tais paisagens evoluem espacial e temporalmente. Cabral nos diz que a Mata Atlântica, desde que seu território natural foi reduzido a quase 12% da cobertura original, não poderia mais ser considerada um bioma, mas sim o maior exemplo de antroma hoje no Brasil. A partir deste emaranhado de visões e vivências com a Mata Atlântica, os materiais levantados ao longo da pesquisa irradiaram três caminhos possíveis para criações cênicas.
No primeiro caminho, nos envolvemos com o sentido de Antroma para tentar compreender nossa situação atual. Através de procedimentos de escutas: escuta sonora do ambiente da Mata Atlântica, escuta do corpo e escuta de diferentes vozes, Atlântica – Parte 1. Antroma, é a primeira experiência cênica e será apresentada no segundo semestre de 2023 e início de 2024. Esta primeira parte foi desenvolvida com o aporte do 16a. Edital do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo que possibilitou a realização de algumas experiências durante o ano como laboratórios de atuação e imersões artísticas com diferentes artistas das artes da cena, entre eles, Antonio Salvador, Elisa Ohtake, Diego Aramburo, Helena Bastos e Mariana Muniz.
Os dois próximos caminhos Atlântica – Parte 2. Juçara e Atlântica – Parte 3. Olhos d’água seguem em processo de pesquisa e ainda não contam com aportes financeiros para sua realização e irão aprofundar pesquisas nas inter-relações entre seres e rios dentro deste
antroma.
SINOPSE
Em um ambiente antropizado, a atriz Alexandra Tavares e o performer sonoro, Eduardo Joly, se envolvem em uma tentativa de imaginar e escutar ecos da Floresta Atlântica que continua a existir abaixo da superfície.
DURAÇÃO
aproximadamente 1h20m
CLASSIFICAÇÃO
livre
FICHA TÉCNICA
Concepção e Atuação: Alexandra Tavares e Eduardo Joly
Direção e Dramaturgia: Alexandra Tavares
Dramaturgia Sonora: Eduardo Joly
Tecnologias e Iluminação: Marcus Garcia
Cenografia e Visualidades: Paula Halker e Eduardo Joly
Figurinos: Fabiana Almeida
Interlocução de Direção: Antonio Salvador e Jerá Guarani
Interlocução Coreográfica: Mariana Muniz
Provocação de Atuação: Elisa Ohtake
Provocação de Dramaturgia: Diego Aramburo, Jaxuka Clarice e Olivia Joly
Assistência de Dramaturgia: Fernanda Robledo
Assistência de Direção: Raissa Gregori
Composição e Voz Música “Samambaia”: Claudia Romano
Arte Gráfico e Site: Marcos Araujo
Produção: Núcleo Nós e Corpo Rastreado
Apoio: SOS Mata Atlântica, Theatro Municipal de São Paulo, Companhia de Teatro Heliópolis